Em sessão na Câmara, Bolsonaro elogiou grupos de extermínio: “Meus parabéns”
O pré-candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL), usou a tribuna da Câmara dos Deputados para elogiar a atuação de grupos de extermínios. A declaração foi feita em 2003, mas veio à tona neste domingo (24), em reportagem da Folha de S. Paulo.
A Folha traz o áudio da declaração do parlamentar, feita em 2003. Bolsonaro disse que os grupos de extermínio são “muito bem-vindos” ao ocupar um vácuo gerado pela ausência da pena de morte no país.
Ele disse ainda que a atuação dos grupos de criminosos que cometem assassinatos sem nenhuma base legal é um caminho para o combate à violência.
“Desde que a política de Direitos Humanos chegou em nosso país, cresceu, se avolumou e passou a ocupar grande espaço nos jornais, a violência só aumentou. A marginalidade, cada vez mais, tem se visto mais à vontade, tendo em vista esses neoadvogados para defendê-los”, afirma o político no áudio.
“Dizer aos companheiros da Bahia que, agora há pouco veio um parlamentar criticar os grupos de extermínio, enquanto o Estado não tiver coragem para adotar a pena de morte, esses grupos de extermínio, no meu entender, são muito bem-vindos. Se não tiver espaço na Bahia, pode ir para o Rio de Janeiro”, continua Bolsonaro.
“Se depender de mim, terão todo o apoio. No Rio de Janeiro, só as pessoas de bem são dizimadas. Na Bahia, as informações que eu tenho, lógico, são grupos ilegais, mas, meus parabéns, a marginalidade tem decrescido”, finaliza. Ouça abaixo:
Um mês depois da fala de Bolsonaro, um mecânico foi assassinado na Bahia. Gérson Jesus Bispo acusava policiais militares de assassinar o irmão e um amigo. Uma CPI foi instalada no mesmo ano para investigar a atuação dos esquadrões da morte no Nordeste.
De acordo com as investigações, os grupos são constituídos em sua maioria por policiais, ex-policiais, seguranças privados, integrantes de organizações criminosas vinculadas ao tráfico de drogas e outras atividades lícitas e “grupos que não guardam relações específicas com o crime organizado, mas exercem o controle de determinadas regiões com a desculpa de garantir a ‘segurança’ de seus moradores”, divulga a Revista Fórum.
Rio de Janeiro
O Rio de Janeiro sofreu, durantes os primeiros anos do século XXI, um dos maiores períodos de expansão da milícia, inicialmente conhecida como “polícia mineira”. Segundo a Fórum, o modus operandi seria o mesmo dos grupos de extermínio da Bahia: atira primeiro e pergunta depois.
Os assassinatos em nome do combate à violência ganharam apoio da classe médiacarioca e declarações positivas de políticos como os ex-prefeitos Cesar Maia e Eduardo Paes.
Enquanto isso, ainda de acordo com a Fórum, os moradores das comunidades sob a ação de milicianos seriam acharcados com a cobrança ilegal de gás, internet e TV a cabo. Comerciantes teriam sido obrigados a pagar uma taxa mensal “para a segurança da região”.
Em 2007, as milícias ocupavam 92 das 300 favelas cariocas. Um caso dramático ganhou destaque mundial: uma jornalista e um fotógrafo do jornal O Dia que passaram alguns dias na Favela do Batan, na Zona Oeste da Cidade, foram descobertos pelos milicianos e torturados.
Em 2008, uma investigação da Polícia Federal (PF) apontou a ligação entre Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil dos governos de Anthony Garotinho e Rosinha, com milícias do estado.
Segundo dados da Secretaria de Segurança, as milícias, em 2018, ocupam no Rio mais favelas do que o tráfico e passaram também a atuar no comércio de entorpecentes. As guerras pelo controle da venda de drogas entre traficantes e milicianos levam pânico, principalmente nas zonas norte e oeste da cidade.
A Folha procurou Bolsonaro para saber se, 15 anos depois, sua opinião permanece a mesma, mas ele não retornou o contato do jornal. E pode ser difícil termos acesso a essa informação, uma vez que o candidato resolveu se ausentar dos debates políticos este ano.
Ciberia // Revista Fórum